Mochizuki, M. – gastromiki@gmail.com
Refluxo gastroesofágico, doença do refluxo gastroesofágico ou simplesmente refluxo é uma doença que acomete cada vez mais pessoas no Brasil e no mundo. Vamos aos sintomas:
A incidência de refluxo gastroesofágico chega a 56% da população1. Trata-se de uma doença antiga, mas de crescimento recente, relacionado às mudanças do estilo de vida, aumento de peso da população e, principalmente, às mudanças no comportamento alimentar da população.
Essencialmente o que acontece é que tanto o ácido presente no estômago, seu conteúdo alimentar, seus gases ácidos, ou ainda a bile proveniente do duodeno, retornam na direção da boca, produzindo as manifestações anteriormente citadas.
Há uma série de explicações sobre os mecanismos de refluxo, mas tentarei explicar de uma forma bem simplificada para facilitar a compreensão. Entre o esôfago e o estômago existe um mecanismo de válvula, localizado em uma região chamada de cárdia ou esfíncter esofágico inferior, que normalmente permite a passagem de alimentos do esôfago para o estômago e impede o fluxo contrário. Desta forma, essencialmente, quando se fala de refluxo, entende-se que há uma falha no mecanismo de contenção dessa válvula, permitindo o retorno, ou refluxo, de conteúdo do estômago na direção da boca.
Isso pode ocorrer porque a válvula perdeu sua capacidade de contenção em função de uma alteração anatômica, como pode ocorrer nas hérnias de hiato (veja o artigo que explica o que é uma hérnia de hiato), ou porque o mecanismo de propulsão esofágico não está funcionando de forma adequada, ou simplesmente porque a pressão dentro do estômago se tornou maior do que a válvula é capaz de conter.
Essa válvula é composta, grosso modo, por músculos e, portanto, quando se fala em falha, estamos falando de uma perda da capacidade de contração ou um relaxamento inesperado. Alguns alimentos fazem isso:
A ingestão desses alimentos produz o relaxamento da musculatura esfincteriana, facilitando a ocorrência de refluxo. Quanto maior a quantidade e a concentração, mais sintomas podem se manifestar.Há ainda alimentos que produzem o retardo de esvaziamento gástrico, aumentando o tempo de permanência no estômago e produzindo maior chance de refluxo:
E ainda há alimentos cujas características podem intensificar os efeitos do refluxo, como:
Há também hábitos cada vez mais praticados pela população, que acabam por aumentar demasiadamente a pressão intragástrica, fazendo com que o esfíncter esofágico inferior seja incapaz de evitar o refluxo:
E fatores ainda fatores que colaboram para o aumento da pressão intra-abdominal, facilitando a ocorrência de refluxo:
Medicamentos também podem facilitar a ocorrência de refluxo, seja por alterar a capacidade de contenção do esfíncter esofágico inferior ou por produzir o retardo do esvaziamento gástrico. São alguns exemplos:
Outro fator que não pode ser menosprezado e que está cada vez mais presente na população, ainda mais em tempos de pandemia, é a ansiedade. A ansiedade gera uma reação orgânica, que leva, resumidamente, a um aumento da produção de ácido gástrico e redução da proteção gástrica, favorecendo a ocorrência da famosa “gastrite nervosa” (leia mais no artigo que fala sobre gastrites), o que leva a uma exacerbação dos sintomas de refluxo gastroesofágico.
Muito do tratamento implica na mudança de hábitos comportamentais e alimentares:
Há que se discutir o uso de medicamentos para controle da acidez gástrica e para melhorar o esvaziamento do estômago, além de avaliar a possibilidade de substituição de medicamentos, casos sejam responsáveis pelos seus sintomas.
Sim. Um dos tratamentos que podem ser propostos para a doença do refluxo gastroesofágico é a fundoplicatura gástrica, onde uma parte, chamada fundo gástrico, é utilizado para fazer um reforço sobre o esfincter esofágico inferior, conferindo-lhe maior resistência, impedindo a ocorrência da maior parte dos episódios de refluxo. Trata-se de um procedimento cirúrgico realizado sob anestesia geral, através de videolaparoscopia (cirurgia de furinhos, com o alguns se referem). Suas indicações são precisas e deixadas para casos específicos em que há associação com esôfago de Barrett (leia em texto específico), ou houve falha da terapêutica medicamentosa e comportamental.
Saiba mais durante uma consulta. Traga todos os seus exames. Traga todas as suas dúvidas sobre o assunto.
1. https://doi.org/10.1590/S0004-28032005000200010
2. GI Motility online (2006) doi:10.1038/gimo14
Cirurgia do Aparelho Digestivo e Coloproctologia | Cirurgia de Obesidade e Cirurgia Oncológica
Médico Responsável Técnico: Dr. Juliano Borges Barra - CRM 97558